sexta-feira, 10 de julho de 2009

Um, dois

- Tá,vocês querem uma revolução?

- Na verdade não

- Porra véi, tô falando sério aqui, a banda é uma revolução

- Ué, por quê? Eles tocam de ponta cabeça com triângulos elétricos?

- Ah, tomanocu, passa essa porra para cá

São quatro, sentados em volta de uma mesa de plástico velho, tomando cerveja numa tarde de quinta feira. Carlos, Paulo, Renato (vulgo Mono) e Vinte dois, o qual o nome é raramente lembrado quando estão juntos, estudantes numa universidade no interior paulista. Os quatro têm uma banda chamada Tempo Morto e discutir sobre música em geral, parece ser a atividade principal da rotina dos quatro.

- Então que horas lá?

- As dez, na frente daquela bar, perto da republica das mina, saca?

- Quais minas?

- Da Ingrid, Nádia, Xena e a Stela

- Xena? risos são contidos

- É, parece que a mina, na época de bixete, de um pau em não sei quem, ae ficou Xena a mulher guerreira

Os quatro gargalham

- Beleza, vou nessa, preciso passar na casa da Florência e pegar minha máquina

- Tá, tamen ‘tamos indo

- Até

-Té

Os quatro se levantam e saem do bar, agora cada vez mais lotado, são quase 5 horas, logo menos o bar vai lotar, com a massa universitária que sai das aulas vespertina. Seguindo seu caminho, subindo uma das ruas principais Vinte dois escuta alguma banda obscura, provavelmente vinda de algum lugar ainda mais obscuro. Ele possui uma predileção por descobrir bandas, não só pela vontade de se diferenciar, mas sim numa experiência de descoberta, sempre querendo ouvir algo diferente para nunca ficar estagnado Mono acho que isso é puro papo furado, ele só quer ter algo só dele e jogar na cara dos outros que ele conhece e eles não. Ambas posições possuem um pouco da verdade.

- Ô de casa, diz batendo palmas

- Peraê, é ouvido no fundo

É uma casa comum, vista em qualquer àrea residencial, paredes brancas (ou algo que já foi branco) portão preto, vazado, daqueles com lanças nas pontas, uma porta de entrada e um caminho que dá para o fundo da casa

- Fala vinte dois, que tu qué?

- Iae, vim pegar a máquina, deixei com a Florência, ela táe?

- Pô, se tu chegasse cinco minutos atrás, tu pegaria ela saindo de casa

- Mas tu não sabe se ela levou com ela?

- Nem sei, quer ver no quarto dela?

- Ahn, nem, deixa quieto, depois falo com ela

- Belê, vai fazer algo hoje?

- Vou naquela baladinha lá, com as bandinhas e tal

- Podecrê, se pá nois se tromba

- Só

Decepcionado com o fracasso da empreitada, vinte dois decide ir para casa, tomar uma banho, matar um tempo até o horário combinado no caminho cruza com Stela, que para ele parece tá sempre para baixo, nunca feliz, como um amigo descreveu uma vez: " Mano, quando ela passa, minha barrinha de felicidade do Street Fighter té cai".

- Oi Bruno

Ela é uma das poucas pessoas que o chamam pelo nome

- Tudo bom, Stela?

- Ahn..sim

- Hmm..sim, táe me senti contagiado pela sua animação

Ela ri um pouco

- Ahn, é quê, tem umas coisas acontecendo

Sempre tem coisas acontecendo, Vinte dois reafirmando o óbvio

- Eu sei, bobo, não é nada demais, só ando pensando muito

- Bem, não vá fundir a cabeça nisso, moçoila, dando uma leve bagunçada no cabelo dela

- Podexá, diz ela timidamente

Ele chega em casa, ninguém presente, põe o som alto e vai tomar banho. O quarto dele na republica fica separado do resto da casa, devia ser o quarto da empregada em tempos passados. Depois do banho, sento no colchão ainda sem a cama “ Carai, preciso pegar a cama logo, tô me sentindo um mendigo, dormindo no chão” e começa ler um texto para aula de sexta, que possivelmente não irá.

É chegada a hora do encontro, Mono já está esperando, tomando uma cerveja no bar, chamado de Kukis, numa tentativa do dono imitar alguma palavra em inglês. Seu celular toca

- Alô?

- Tá onde?

- Tô tomando no Kukis, onde cê ta?

- Chegando, ‘braço

- ‘braço

Os quatro se encontram novamente, prontos para adentrar na festa. O que se segue é uma sucessão de cumprimentos, risadas, tiração de sarro, tudo regado a muita cerveja. Finalmente a aguardada revolução prometida por Paulo começa. Uma distorção ali, outra aqui, bateria como uma marcha militar, baixo marcando o ritmo. Enfim nada que já não se tenha ouvido. No fim o vocalista, pega o microfone e diz:

- Valeu pessoal! A vibe foi positiva aqui e aproveito para pedir para todos, que mudem sua foto no twitter para verde, para mostrar nosso suporte com a causa deles! Viva a Liberdade! Salve Che!

 

É, foi uma revolução e tanto.

 

Finalmente, um blog meu

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